terça-feira, 6 de abril de 2010

Palavras a um sol taciturno

Hoje vi o sol morrer.
Estava à varanda. Não muito longe do mundo. O sol agraciava-me a casa com a sua luz. Não lhe agradecia, era o seu mais que dever. Todos temos um. O meu era dormir. Dormir até o sol se por e depois sair e ver a Lua mais de perto. E tocar-lhe. Lembrar-me de como era bonita quando lhe tocava acompanhada de uns e outros e como esses destruiram as minhas ilusões nocturnas, e me fizeram partir para outra realidade.
Uma realidade onde também á luz do sol, existiam sorrisos, se cogitava bebendo imperiais feitas para corações bonitos e se fazia o que não devia, se faziam tranças em cabelos ruivos que desta cor ficavam devido a demasiadas sangrias, se trocavam beijos em relvados em que também o sol queimava a pele, se ouviam melodias de outros tempos e dos nossos e se dançava. Sozinha ou acompanhada. Com ou sem Lua. Se dançava sempre. Fosse para os outros, fosse para mim mesma. Por ordem de sua autoridade o médico de familia, era agora possivel continuar a sonhar. O que fazia por amor a mim mesma havia me sido proibido e agora de novo autorizado. Abusava desse direito. Era perfeito. A Lua também assim o autorizava. Como de outras vezes apenas autorizava toques, beijos, e intimidades que so eram intimas pela nudez que as caracterizava, mais nada. E com graus negativos na rua, se despiam, e sentiam ainda assim o calor alheio, disposto a tornar-se mútuo entre os dois. De todas as vezes em que outros se deitavam ao meu colo e choravam e eu acariciando-lhes o claro cabelo lhes prometia fidelidade. E como ma traiam, num clima pecador anti-cristão.
Uma outra rapariga ruiva, mas falsa, canta me que "darling you are the only exception".
Pergunto-me se está a interrogar-me ou se me pede para o fazer a alguém. Talvez com o passado. Tento não pensar nele. Faz-me arder o meu bonito coração. E pra corações sofredores já bastam os das minhas putas, que afastadas se perguntam se a paixão sobrevive á distância.
Sobrevive.
A única coisa que morre com a distância, é o esquecimento. A recordação é infinitivamente presente, pela falta da presença.

Há muito que o sol morreu. Não lhe disse adeus. Não me trouxe nada de novo. Faço por merecer as minhas palavras.

São 19.55.
You are the only exception.