sábado, 30 de janeiro de 2010

Olivia

E também o tecto era branco

Acordei relaxada. A cama já não era a cama e a boca já não mostrava os lábios. Havia uma estranha sensação de tranquilidade que lhe pesava na consciência. Feria-lhe o princípio e feria-lhe a vontade. À sua volta o branco assemelhava-se a um negro imposto pela escuridão e a parede do quarto era-lhe a mais próxima. Parecia uma estranha companheira do fim. Uma anunciante prévia do suficiente. Tudo o que ultrapassa o suficiente na alma, doía-lhe. Sentia-lhe o quente nas costas. Aquecia-lhe a pele nua contra a sua e ele fazia-lhe o mesmo por amabilidade. Era tão quente. Uma estranha sensação de conforto. Estagnante. Chorava sossegada por estar feliz. Chorava levemente para não denunciar uma tristeza mentirosa. As lágrimas escorriam-lhe na face. Apanhava-as com a mão para que não molhassem uns lençóis incriminatórios e limpava a mão húmida na parede. Ouvia-o sonhar.
Era bom ouvi-lo dizer o seu nome. Olivia.
Mas já não se reconhecia na identidade. O corpo não era seu. A substância era própria mas demasiado diferente para ser identificada. As lágrimas frias arrefeciam lhe o corpo e sentia a pele tornar se sensível e espasmódica. Ele sentiu-lhe o espasmo e beijou-lhe o pescoço por detrás. Com um beiço de tristeza, fez um esgar maior da negativa culpa imediatamente correspondente do beijo e sentiu-se amada.
Mas a culpa corroía-lhe nos ossos. O quente do corpo que desejava. A tranquilidade da noite. O conforto da paixão e a sensação de imensidão.
E perante o frio do ar, o arrepio do chão, a desordem da manhã, o desconforto da individualidade e a humilhação do real, levantou-se e saiu do quarto.
Eram sete e quarenta e cinco. Um sofá de outros tempos, numa entrada de tempos modernos, chamava-a a sentar-se e a perceber a inconformidade. Sentia a dormência nas pontas frias dos pés. As lágrimas caiam agora no soalho de madeira, manchando-o. Tentou escrever o seu nome, alterando a trajectória das lágrimas, mas era difícil desenhar. Pela primeira vez na sua vida. Na entrada, um relógio ostentava uma gloriosa talha dourada que troçava do tempo, com a sua magnanimidade. Olhou para ele. Sentada, o mundo parecia mais alto. Como se apenas crescesse quando ela se curvava num sofá de outros tempos. O ponteiro dos segundos alcançou o número doze. Esperara por esse momento à outros quinze. Lentamente, pegou numa inabalável almofada e pousou a cabeça de frente para ela, como se a abraçasse. Em troca, esta prometeu-lhe não contar os seus segredos. Erecta, sentiu o corpo curvar deixando o seu tronco paralelo ao chão. E chorou. Abafada pelo silêncio da promessa do objecto, chorou pela identidade. Chorou novamente, berrou silenciosamente e a almofada apertava-lhe os sentimentos contra os seus e chorava com ela. Também ela estava molhada, também ela chorava. Queria vomitar a essência. Não sentia os músculos do corpo, não sentia a vontade – a de continuar. Queria desistir de viver. Durante cinquenta segundos. Aos sessenta, pousou a almofada no sofá de outros tempos, ajeitou-a para que ficasse bem enquadrada com a visão geral do passado e sorriu para o trabalho bem feito.
Levantou-se, enxugou as lágrimas que a almofada dera, da sua cara e saiu da estranha casa. Chamavam-lhe hipócrita. Olívia chamava-lhe o restolho de tudo.
Na rua estava um frio de outras eras. Desapertou o casaco. Achava-o confortante. Seu.



(Para o saciar do curioso traseunte, fica apenas um anúncio. Esta é a Olivia. Nunca nada foi tão importante de escrever para a mim como a minha Olivia. )

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A thousand words




Ainda se consegue criar algo de puro , sem qualquer tipo de pecado ou conceito rotulado pela sociedade como incorrecto? As curtas metragens. Permitam-me que vos apresente, Ted Chung, criador de duas das mais puras e valerosas curtas. Aqui fica a melhor.
Junta-se -lhe uma manta e uma garrafa. E já que vais ao bar, traz me a redenção terrestre dos meus pecados divinais.

Are you HAPPY?

So... Are you?

sábado, 9 de janeiro de 2010

Mission of survival.

Dedico me apenas aos actos, aos pecados e aos textos.
O gato comeu-me a língua. Ups.