sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Primitividades da identidade romântica

Do outro lado, uma rapariga cantava. Como sempre acontece em madrugadas de pecados inesperados.
Inspirava-me a relatar um sonho. Um sonho daqueles em que gostariamos que a realidade se intrometesse de forma coscuvilheira e lhe roubasse as imagens e os movimentos, e de uma fraude tremenda lhe trouxesse uma nova identidade.
Este sonho falava-me de caracóis. Loiros mais uma vez. Estaria a definir-se uma predisposiçao clara do que mais me agradava? Talvez. O que acontece é que existia sempre uma caracteristica albina similar. Olhos claros. Cabelos claros. Pele clara. Mas estes olhos eram escuros. Psicadélicos e profundos. E deveras observadores. Tão observadores que pareciam falar. Nao de forma simples. Nao de forma intrometedora como as passadas realidades. De forma cativante. Esperando ouvir uma historia. De uma realidade de "beleza americana" em que o jovem apenas achava a rapariguinha vulgar, interessante. E filmava durante horas um glorioso saco de papel. Desse tipo de olhar. E há quanto tempo que nao se observava um olhar desprovido de luxuria. Um olhar sedento de um calor. De um toque de narizes frios, desejosos de provar o calor humano.
Lembro-me como o nariz de caracois loiros a abordara. Roubara-lhe uma conversa.
Fora tao simples como isso.
- E tu és?
- Eu sou eu.
A rapariguinha ria-se de nariz quente de fim de verão.
(a música muda. julgo que neste momento um rapaz hispanico me diz amar tal como sou. nao sei se acredite)
E de uma breve e curta conversa se tinha provado a doce tentaçao pos juvenil.
O eu tinha ficado apresentado, a rapariguinha continuava no seu programa de protecçao de testemunhas, e o rapaz motivado á conquista.
Lembra-se, depois, de como durante a noite uma das suas historias de pecados, passara para um sonho. Continuava com a seguinte conversa.
-Nao sabia se o interesse estava lá. O interesse parecia estar lá. Mas parecias ignorar. Parecias apenas querer olhar. E olhar mata. Como os iogurtes de cereais e frutos vermelhos. Diz me só. Eu interesso te?
-Achas que nao?
-Acho que ja nao sei. Acho que devia de saber. Interesso te minimamente?
-Nao.
-Obrigada . Era so o que queria saber.
E devagar se levantava das escadas, e subira um degrau quando a sua mao suspensa por outro, exercia a rotaçao instantanea do seu corpo.
-Nao me interessas apenas minimamente.
E trocava um beijo com ela.
- Eu sei como te chamas.
- Eu também.
Estranho, como o nome importava. Parecia algo tão primitivo para o resto do mundo. E para a sortuda rapariguinha, era a eterna novidade.
(O rapaz hispanico continuava a atingir os agudos mais romanticos do mundo. Mas está prestes a acabar.)

Olá meu cheesecake! Estás no ar!