quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A rapariga que comia Chiquillins



Conheço uma rapariga que desejou estar no centro do palco e com uma luz bem presente também no meio de tudo o que era, ser apresentada.
Que falassem dela como se a tivessem conhecido durante mais de 50 anos, e mesmo assim apenas tivessem conseguido captar as capacidades inatas, os desejos inerentes e os universos que a constituíam. Para ela chegava. Para ela chegava a sobrar.
O realmente importante, era não ser conotada por uma imagem de dúvidas, em que a excentricidade chegava quase sempre a vencer a essência e onde a persuasão do espírito era sempre vencida por uma constituída e verdadeira forma de viver a luxuria do corpo.
Afinal, para todos os transeuntes de uma rua, uma puta não sabe falar para além do broche, do em pé ou deitada, do com tudo incluído ou o só por trás. Onde o imundo suplanta o brilhante e onde o aparente reage perante o real e o torna irrelevante.
Essa minha conhecida, apenas gosta de fazer crer, que o pecado não é nocivo. O pecado é um dogma moral de uma sociedade que aprendeu dentro da sua bolha actimel coberta de El Caseis Imunitasses, a baixar a cabeça e a obedecer a um manual religioso. O pecado tem de ser vivido e desfrutado, tem de ser amado intensamente e tem de ser respeitado. Mas antes de mais, tem de fazer respeitar a moralidade do espírito.

Hoje tomei café com ela.

Estava mais calma e serena que nunca. Nunca a tinha visto respirar fundo, mais do que duas vezes. Atenuou a intensidade do extremismo que a reagia e aprendeu a ponderar. Perguntei lhe o que correu mal no pecado vivido sem cessar. Respondeu-me que o mais difícil, quando o desejo existe, é não ultrapassar o limite imposto. Perguntei lhe novamente, (com um ar um tanto impertinente de interrogatório), se alguma vez chegara a ter limites.
Riu-se de mim. Disse me que todos temos limites. E aqueles que não os admitem ter, são simplesmente aqueles que de ideais vincados, insistem que não se adaptam à divergência e permanecem erectos perante a adversidade. Era apenas um moderar de pontos negativos que contrastassem com a sociedade, como que a apresentar o choque dos positivos perante o real.
Pediu me que não a levassem a mal. O narcisismo persistia e acho que até ganhara uma nova vida. Mas este aprendera a meditar. Até aqueles que vivem sozinhos, têm de conseguir viver consigo mesmos. As lições continuam a ser as mesmas. Hão-de continuar com o tempo.
Por enquanto, a energia permanece pura. Sem vinganças, mal dizeres, traiçoes, sujidade e pesos desnecessários.

Que a desilusão nao se torne parte integrante dela.
Mas hoje, enquanto comia as suas Chiquillins de sempre, disse me que se tinha apercebido que a unica forma de percepcionar a importancia dos que amava, era perdendo-os.
Achei triste.




(finalmente saboreei o gosto de ser fodido por mim
Sabe a vodka. )