segunda-feira, 30 de março de 2009

Cala-te e...



Demasiado impensável para ser verdade.

Demasiado verdade para ser pensado.

Demasiado irreal para não ser vivido.
Demasiado apetecível para não ser realizado.

Ás vezes parecia demasiadamente um sonho. Os cabelos incrivelmente castanhos dela, lembrando o chocolate; o corpo insinuado em roupas de primeira e recordações de segunda ( de um passado de sedutoras memórias) e o olhar. Muito sinceramente, e cortando com todos os clichés de romances de novelas de canal privado, era o olhar mais vivido de sempre. Transbordava o sentimento de "nada do que me faças me surpreenderá".
E ele amava isso nela.
Secretamente.
Como em qualquer boa história.
Ele diga-se de passagem, se respeitoso fosse, seria de sua obrigação, curvar-se perante quem o criou, e agradecer a dádiva da sua incrível beleza. E haviam-se conhecido por coincidência, numa de muitas noites de jovens crianças. Em que o álcool se sobrepõe á decência, e a sangria por ser á descrição, é jorrada sem medos. E a lucidez a pouco e pouco se perde. Ela, não por hábito, mas por necessidade, deixou-se vender por um "Posso te pagar alguma coisa?" e pouco tempo depois, encontrava-se de consciência, desejos e pernas abertas, em contraste com um conservadorismo trancado a sete chaves. Ouvindo o som ensurdecedor de um qualquer dj de segunda, sentindo um corpo qualquer o seu, gemendo e repetindo insaciável. Assim ficaram por uns longos dez/quinze minutos até que se tornou monótono.
E dispensável.
Foi-se embora sem sequer lhe dizer uma palavra.
Deu lhe um estalo e um beijo. Dizia-lhe um cínico até breve.
E fez lhe um chupão.
"Já foste meu".

Anotava num pequeno caderno preto. Pintado de vermelho e borrado a rosa, de um baton ordinário já gasto.
Por ordem alfabética, por favor. Ordem, listagens e continuação. E alguma genuinidade, se fosse também possível. Viveu assim, e desviveu também. Sem se aperceber que passara uma juventude, vivida e desejada, vivendo com os mesmo personagens. Inventando os mesmos nomes, sonhando os meus sonhos e saciando-os. Era uma parede, e uma foda para a mesa 3! A monotonia de um corpo.
Até que havia decidido parar. O corpo já rejeitava os outros, os outros continuavam insaciáveis e o termo de rua já se adequava á personagem. A reputação foi parada. O dia foi reposto. A noite abandonada, e o desejo adormecido.
Passaram-se então três anos.
Até que voltara a abrir os olhos.
Ele era perfeito. Por ser imperfeito ao falar. E eficaz ao agir. Haviam-lhe dito. Davam lhe um nome que não o dele, e diziam-lhe ser o deus.
Com um estalar de dedos, ordenou-lhe a morte da sede. E ele assim o fez. Existiam alturas em que usar um vestido curto, ajudava à causa do senhor e existiam alturas em que estes eram também mais fáceis de tirar. Encontrou-o num canto escuro de uma festa privada. Empurrou-o contra uma qualquer superfície e fez lhe uma revisão geral, nos ensinamentos de jovem criança. Cabeça, corpo, dois braços e três pernas. Estava lá tudo. Beijou-o sofregamente com o desejo de anos, e a experiencia de outros tantos. Percorrendo o corpo, e fazendo sons de apreciação global. Pobre rapaz, sem se aperceber do exame nacional a que estava a ser testado. Durante horas era seu sem se aperceber. E no fim Dava lhe 12 e dizia-lhe "Precisas de estudar mais." Era apenas um miúdo. Com mais fama que proveito.
E agora, tinha lhe dado a fama.
E o proveito estava lá.
Pelo menos o dele.

Nada a continuava a surpreender.
Sem ser o tamanho da sua enorme lista.
Era mais uma.
Pensava ela.

E apenas a percebia quem a conhecia de uma vida de listagens.



Sempre. O prazer.
@