quarta-feira, 11 de abril de 2012

"Sente as extremidades, minha rosa"

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"Não tenho culpa de nao saber amar."
Mentes-me descaradamente! Onde está escrito o método de amar? Amar uma noite é amar. Se assim creres, amas com dignidade para com o teu conceito e entregas-te, sem mentiras, quando te entregas. Eles é que não sabem amar, minha rosa! Fizeram desta tendência de troca e partilha entre indivíduos, uma coisa tão banal e social que todos pensam ter de fazer tudo e só o que é considerado, perante os outros de civilizado; como se não tivessem a certeza do que sentem. O casamento é uma invenção tão patética como a guilhotina."

Deitada na cama, só e verdadeira, deixo o corpo imóvel, ignóbil, petrificado na esperança da perdição. Uma perdição que fuja aos mundos onde me encontro. Fria, frágil, fragilizada e facilmente forçada para quem não a reconhece como minha. Uma perdição honesta, modesta e esperançosa de que a mudança permaneça pelos ossos, pela carne, pelos órgãos e por todos os pequenos e grandes tendões que asseguram a minha imobilidade perante a perdição.

Deitada na cama, só e verdadeira, hirta e acerba consciente do meu corpo, oiço uma voz clara e consciente, misturada com uma banda sonora apreciada. Não propriamente calma, mas introspectiva perante o estado que se quer. O estado consciente e, efetivamente meu.

Deitada na cama, só e verdadeira, oiço a melhor voz do mundo. Compreendo cada letra como se melodia fosse e entoo-a como se minhas palavras fossem. Não fosse esta a pessoa mais incrível da minha vida. Não fosse este o fascínio do meu mundo. Não tivesse ela pintas nos olhos e se chamasse sara afonso.

Deitada numa cama qualquer, sinto as extremidades.

Esta é a melhor sensação que o universo já transpôs em palavras. Quando imoveis, ignóbeis e petrificados pela grandeza do universo, te deitas numa qualquer cama, num qualquer encosto mundano e sentes as extremidades. Como quando a apatia sobrevivia á alegria e ganhava constantemente as batalhas numa tentativa de que eu fosse mais e mais vazia e cada vez menos impressionável. Ate que atingi o fundo do mais fundo dos poços da terra e era toda eu apática, indiferente e indolente perante tudo. Perante todas as profanidades mortais. Perante todas as dissertações filosóficas, perante todas as demonstrações existenciais, era eu plena e segura, apatia.

E a Sara Afonso, pede-me que me deite numa cama, e tente com muita força sentir as extremidades. E devagar me aperceba do meu corpo. Que existo.

"Tenta devagar, sentir a dormência das extremidades. E depois as pernas e os braços, ate que te apercebas do teu corpo e do que és."

4 ou 5 anos se passaram.

As extremidades estão dormentes, vivas e apaixonadas. E o resto do corpo também.